sexta-feira, 2 de novembro de 2018

nesse mundo sedento por guerra,
meu útero, meu sangue
são as armas mais temidas

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

terça-feira, 25 de setembro de 2018

terça-feira, 21 de agosto de 2018

A sensação que nunca vai embora
O corpo quase morto padece
Suor na janela embassando o céu
43 segundos de taquicardia
E depois pausa, cigarro
Várias maneiras diferentes de se intoxicar por dia
Pra sobreviver a outras situações
Igualmente ou mais tóxicas ainda
A gente senta e acha um pouquinho de conforto
No meio fio entre o julgamento e auto sabotagem
Tem que botar os pés no chão de novo
Muito sangue em mim, nas pernas
Nós pés, no chão
Ninguém pode ver
A sensação nunca vai embora
Todo o resto sim, secos
Como folhas de outono
Secos e frios
Ninguém quer ajudar
A sensação nunca vai embora
Não consigo acreditar que acabou assim.

Como é ruim estar engasgada mas não ter nada a dizer.

quarta-feira, 4 de julho de 2018


Ouvidos estão apitando
a luz piscou duas vezes
Semana passada sonhei
era o trabalho
era uma luta rasteira
um chapéu caiu no chão
e foi tudo que sobrou
O véu dela me embriaga
ou abre meus olhos de vez?
Não dá pra dizer, a vista está turva
estou bem perdida da cabeça
sozinha, a luz acabou
eu já disse isso?
mas você está segura no seu quarto
não tem problema
Também posso ser perigosa
estou profundamente magoada
confusa
Jamais te perdoarei
não sou piedosa
não sei como fazê-lo
queria ir embora daqui
me tirem daqui agora mesmo
de perto da lembrança
Senti muito asco desde então
o vento cantava "cuidado" no pé do ouvido
A mão que segurava o véu
balançou no meu cabelo embaraçado
se eu fosse presa
escreveria de novo sobre trabalho
e como funcionam os objetos de poder
Mas não será tão fácil assim
não podemos falar tanto sobre essas coisas
vão nos interromper antes
intra romper visceral
Estamos presas de qualquer forma
na falsa esperança de que algo mudou
na falsa sensação de liberdade
Tô debruçada no abismo
a ponta da sua falácia
se ficar, eu morro
se partir também
é esperança
ou ingenuidade?
Como vou recompor
ou dar de presente
se está tudo aos pedaços?
Desespero sólido e
o olhar, o olhar que te fuzila
Não aguento mais nenhum pretexto
não cabe a nós calar a boca
Estou cansada
e também sinto ódio
Injustiçada, mas não vulnerável
queria te banir de toda a existência
acabar com a dor que espalha
deveria você morrer de seu próprio veneno
Sei brincar bem com fogo
e te deixar com as consequências
Vou te amaldiçoar de volta
nem que seja a última coisa
que eu faça nessa vida cruel

domingo, 17 de junho de 2018

Péssimos hábitos
Repetição
Teoria
As coisas matam
As pessoas também

terça-feira, 15 de maio de 2018

A vida vendida como um emaranhado de objetivos maleficientes
Felicidade como produto
Nós, como subprodutos
Quão mais tento me libertar das amarras
Mais percebo quantas são
E quais são suas raízes
Esbranquiçadas, doentes
Mofadas sem esperança
É tudo um devaneio
Dissipando-se
A floresta vem e me carrega no colo
Apocalipse mental
Devolvendo minhas origens de
Liberdade indígena
De criação uterina
Da vida par
Meu útero é sangue
E meu sangue é vida
Meio a esses destroços tentaram nos enganar
Nos fazer a odiar quem realmente somos
Somos vida
E o único sangue que eu tenho nojo
Hoje e sempre
É o sangue de suas guerras por felicidade
Gélida e genocida
Que desgosto de parir
O herói ou o mártir
Essa ideia de matar, tem que morrer
Transmutar a algo maior
Não somos apenas matéria
Tampouco material de outrem
Somos vida, somados
Destruímos o indivíduo segregado pelo ego
Somados, somos divindade
Criação.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Péssimos hábitos
O tamanho do cachimbo
A meritocracia
Os rumores
O assoalho da casa
Os tiros
Correria e boatos

A sobrevivência rebelde
Remove os escalpos
Dos infectados pela epidemia
Marcam em sua testa
Para que com ou sem uniforme
Jamais voltem a ser
Uma ideia em ação
Um desastre em execução
Uma canção de bombas

Não deixe o ódio sair vivo.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Não sei porque você volta
Se a reclamação é sempre a mesma.

Está chegando perto de acontecer
O olfato aguçado
Sensações cítricas nas memórias nasais
Estômago, o cérebro do cérebro
Uma dança ácida borbulha até o teto
Sobe e desce as escadas
Mãos mortas, mandíbula epiléptica
Dentes transantes até rachar
Nuca tensa, corpo estremece
O ar nunca foi tão espesso e pesado
Comprimidos jogados fora
Junto com as chances de ir embora
O passado ronda a casa
Dá pra ouvir de todos os cômodos
Vozes, malditas vozes
Olho fixo no vórtice
Tudo começa a girar
Até que a cabeça se choca contra a parede
A cena se repete três vezes
Volta pro travesseiro
Tudo continua no mesmo lugar
Errado, tonto, hipócrita, travado
Morto por dentro, maquiado por fora
O corpo cansado
A cabeça doentia
Miragem febril
Não dá mais
Não dá mais
Não dá mais
O pesadelo volta todas as noites
Nunca foi embora
Nunca vai acabar

domingo, 6 de maio de 2018

Deve ser tudo desespero
É tudo desespero mesmo, e ninguém
Ninguem dá valor pra ninguém
Só quando morre
Aí quando morre, ama
Quando morre, lamenta
Quando morre, respeita
Quando morre, saudade.

É por isso que eu queria morrer
Porque morrer é não provar nada
Morrer faz bem pros olhos
As pessoas comecam a enxergar melhor
Reavaliam sua existência
De repente, descobrem quem você foi
E num momento tardio e fúnebre
Te amam apenas por isso
Apenas por ter existido, sem esforço
Sem dor, sem esperar
E não outra coisa.

Mas tem que morrer
Pra poder existir em paz.

Queria esquecer que existo.

Tem uma voz na minha cabeça
Ríspida, dura, ruim
Ela grita bem alto lá dentro
Que não vale a pena
Que eu sou sozinha
Que as pessoas não se importam

Tem muitas vozes na minha cabeça
Muitas vozes que roubam a esperança
Elas vem de fora, de você, de alguém
Ficam lá martelando ideias idiotas
Ideias impossíveis
Coisas que não quero ser
Emoções que não quero sentir
Pressão, expectativa
Decepção

Tem outra voz na minha cabeça
Uma voz cansada, baixa
Quase que um ruído
Invadindo as estações de rádio
Ela resiste, ela acredita
No que restou
Acredita no que sobrou de bom
Que as outras vozes
Ainda não conseguiram destruir

Tem essas vozes na minha cabeça
E minha boca muda logo seca
Não deixa nenhuma palavra sair
É um manicômio infernal no cérebro
Queria achar um botão
Pra resetar os pensamentos
Lamentos de vozes eufóricas
Labirinto sonoro cerebral

Enquanto isso
Espero demais
E nenhuma voz
Dentro ou fora
Pra me dizer
Que vai ficar tudo bem.

domingo, 22 de abril de 2018

Closes, ângulos de baixo para cima
De cima para baixo, do chuveiro
Da faca, do braço da vítima
Seu umbigo, pés
Rosto, boca gritando
O sangue escorrendo para o ralo

Todos os dias são iguais
A cena dura 45 segundos
De taquicardia

Os sinais de aviso
Antes de triunfar o desastre

Aí, surpresa!
A humanidade emburreceu
A um nível absurdo

Violência, problemas
Algo muito estranho acontecendo...
Idiocracia tropical
Guerra Mundial

Não eram todos os animais iguais?
Ou eram alguns mais iguais que outros?
Várias são as controvérsias

Contra o tempo
Contra qualquer cultura de opressão

Vocês são fodidos iguais a nós, porra!

sábado, 7 de abril de 2018

Andamos no meio fio com a morte
Enganados de si mesmos
Ela balança minh'alma e canta
Triste Gloomy Sunday
A canção me deixa póstuma
Durmo em desencanto
No acalanto de seu colo quente
A ternura de sua liberdade
Não deve nada à ninguém
Porém tratada com maldade
E usada como pena neste mundo cruel
Pobre coitada a morte
Mau interpretada como também sou
Ninguém a convida para dançar
Então coube a mim o convite
Tenho pensado demais n'ela
É um desejo herege
Estou obcecada por seu mistério
Penso em logo me entregar
De corpo
Cansado
De alma
Enferma
Só a morte me liberta.

terça-feira, 20 de março de 2018


Cidade-cinzeiro
A poeira que sufoca
Vai e volta incessante
Geografia do local friamente calculada
Mirada ambígua
Se divide em dois estados
Sólido ou gasoso
Humanos sintéticos
Dirigindo os veículos
Trânsito de ideais
Chegou onde queria
E agora?
Máquinas que não dizem nada
Calor desistente dos corpos
Nenhum movimento orgânico
Só o caos organizado
Em muitas caixas por dia
A solidão é compartilhada
Em milhares de doses
Doses diárias divididas
Entre legal e ilegal
A droga e a drogaria
A mídia e o que diziam
Mataram seus sonhos
De liberdade indígena
O cinzeiro te sufoca
E a fumaça aqui
Não é só de brasa queimada
É de desespero no olhar
É de bala perdida
Que sempre acha um preto ou pobre
É de gente ferida
Que morre no descaso da sua sala
É da máquina quebrada
E da que funciona também
Funciona nas mãos do estado
Mira e acerta o alvo
Sempre selecionado
Entre etnia, classe social e gênero
Fingem não saber o porquê
Mas nós sabemos que é real
E que rasga a pele
Amacia
E deixa a carne mais barata.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Há muito espaço físico, há embriaguez mental, onde todos os dias mais uma mulher negra morre na mão do estado. Mais uma mulher. Na mão do estado. As vidas, e na mão do estado contrações uterinas, dando margem pro feminicidio diário, sustentando a ideia de que nossa vida não importa, tampouco será vingada, tampouco será esquecida. E nessa história morre também a esperança, morrem também as indígenas, ressaltando, somos filhas do estupro, e não duvida-se que agora também o oprimido é um reflexo, torna-se, pela raiva e descaso o próprio opressor, agredindo seus irmãos e irmãs. Move-se a roda, as engrenagens estão borradas de sangue, dando pau toda hora, dando pau toda hora, sem consenso, coagindo, agredindo e matando sufocado nossos sentimentos e sonho de equidade. Medo e agonia restaram.
Essa noite novamente me veio o pesadelo, ele tinha formato ímpar, era um homem robusto, não media consequências, assim como aquele que matou um pouco de mim em 2013 e, na realidade não pude fazer nada além de sentir a morte escorrer quente em meu corpo de formato par, mulher. Já no pesadelo, descontei minha revolta, me defendi com uma faca e o castrei da existência por vingança. Eles me pedem calma, foi só um sonho ruim não é mesmo? Gostaria de poder afirmar. Mas todo dia é a mesma coisa, e dia 19 de janeiro de 2018, cinco anos depois de tantos ataques de pânico, fui no judiciário, mesmo assim me pedem para que não caia no desespero, afinal, poderia ser no IML, assim como foi para outra irmã hoje,  agora ela já não pode sentir nada, eles disseram, "está salva", e morta pelas mãos do estado. Afeta um pouco de cada uma, e não sabemos o que sentir. Não é novidade que a polícia mata, principalmente se sua cor não for branca, principalmente se puxarem o seu CEP, principalmente se você for "minoria". Sim, estamos em estado de desespero. Não, não ficaremos à margem.


Quadrados a nos governar
Por trás de suas cortinas de seda
Nossa realidade é o sangue
Que jorra na valeta-cidade
Não podemos pagar
Ainda sim revidaremos
Mesmo que magros e cruéis
Mesmo que com ódio nos olhos
Mesmo que com fome também
Tomaremos seu prato de assalto
Seu vinho embebido em veneno
Você não vai perceber
Porque aqui o barulho do tiro é alto
Mas o silêncio da ganância mata mais rápido
Vocês já estão mortos por dentro.

domingo, 11 de março de 2018

O ego é fashion
Falso e vazio

Coagidos
À desesperança
Encontram-se seguros
Na ilusão da escolha
Entre libertar-se
Ou submeter-se
E comprar uma terra no céu

sexta-feira, 9 de março de 2018

O paraíso não é aqui
A trágica poeta
É uma cruel admirada
O sofrimento é mundano
O talento é sulfúrico
Realidade imaginária questiona
Quanto tempo de vida você escolheu?
Procura-se então
Um rito de passagem
Um sonho
Um território livre
Alista-se num clube de combate
Guerrilha interna
Delirium ambulatorium (surto)
A arte transborda
Na defesa
E no ataque
Performance de veludo
No carnaval do inferno
E não enxerga mais nada.

terça-feira, 6 de março de 2018

Variável o tempo
Entre um e outrem
Não ocuparemos o mesmo momento
E quando o fizermos, será a prévia
Prévia vontade e anseio pelo sempre
Eternizar o efêmero que fora compartilhado
Agonizar na esperança de que
Seja estável e coincidente
Seu estado com o meu
Seu tempo com o do outro
Nada, nem ninguém ocupa o mesmo lugar
Tampouco deveria
Então acostume-se
É tudo assim mesmo
Uma breve passagem
Encontros e reconhecimentos de si
Que acasalam nos horários oportunos
Que se dissipam
E nunca mais são os mesmos

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Um corpo vazio em desencanto
Raramente encontra as palavras
Diariamente encontra o desespero
Vácuo em expansão
Até que a massa toda se dissipa no ar
Feridas incuráveis
Cicatrizes
Restos e retalhos
Colados ou enfiados a força
Dentro da moldura do que restou
Apenas um contorno
Um breve esboço se esforça
À tentar sobreviver ao vazio
E ao caos do silêncio
Tamanho silêncio, ensurdecedor
E a retina esbranquiçada
Tinge em translúcido na face
Molhando a feição cansada
Debruçada na janela dos sonhos
Precisa partir em breve
Uma pausa caótica
A rotina em estado de desgraça
Queria trocar as válvulas
Do sussurro matutino
Socorro socorro
Existência devastada
Corpo enfermo resiste

Até quando não importa.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

The night is cold
dark and hard
to survive

Preciso incendiar suas ideias
Preciso esquecer que existo.

Algumas pessoas não existem
São só um reflexo
Do que esperam delas a vida toda
E se sacrificaram
Pelas pessoas que amam
E que nunca as deram nada em troca
A não ser uma desesperança crônica
E uma corda, no meio do caminho

Uma carta desesperada à mim mesma

Eu só consigo dormir quando amanhece e vai clareando o dia porque eu sinto uma falsa segurança na luz, eu posso ver o perigo entre uma passagem rápida que me faz acordar entre um sonho e outro pra saber se ainda estou viva. Se ainda é real. Eu sinto muito medo as vezes e eu começo a chorar, as imagens ficam voltando como um filme de fita cassete emperrado na minha cabeça, e eu não consigo fazer rodar, nem rebobinar, nem tirar a fita. Eu não consigo gritar nem chamar ninguém, porque acho que se eu gritar eu vou morrer. Eu não consigo conversar com a minha mãe, porque não consigo suportar que ela sofra com o que sofro, não consigo olhar em seus olhos e vê-los procurando ajuda pra alguém que já não tem mais jeito, eu. Não consigo andar sozinha na rua sem passar mau, não consigo andar desarmada, não consigo achar que vai ficar tudo bem porque eu sei que não existe tudo bem. Não consigo deixar as pessoas se aproximarem de mim, porque acho que não mereço, porque me sinto um lixo, porque não restou quase nada de mim, porque espalho minha dor e contamino as pessoas com minhas sequelas que me aprisionam no passado. Não consigo comer, porque não sinto fome, apenas me alimento pra manter a obrigação de estar viva. Não consigo sentir vontade, me forço a sair de casa, me forço a ir a lugares que não me sinto confortável apenas pra testar o meu psicólogico. Não consigo me abrir, e quando o faço, me sinto culpada, e me sinto traída, porque ninguém vai entender, porque ninguém vai se importar, porque ninguém vai suportar a convivência no manicômio que é estar comigo. Eu não aguento mais minha cabeça e eu não aguento mais meu corpo fadigado, a auto sabotagem, as tentativas fracassadas de ser uma boa filha ou uma boa companheira, as crenças e os costumes de minha família que os deixaram cegos demais para saber quem eu era, as pressões ridículas pra que eu me tornasse algo que não sou, as cobranças e autoritarismos que apagam minha existência real, as pílulas que eu tomei, e as que eu não tomei, os efeitos colaterais, do remédio, do remorso e do ódio, e também do amor, e são todos iguais, assustadoramente iguais. As muitas paredes brancas, e as verdes também, quais tentaram me internar diversas vezes e não conseguiram, os devaneios, as vezes até de olhos abertos, as tremeideiras, a automutilação que ninguém vê, a desesperança e a vontade de já não sentir mais nada. Eu não aguento mais então por favor não me venha com a possibilidade poética de um amor futuro se isso não for real. Porque nada faz sentido mais e eu sei que eu tenho razão nisso. Então qualquer forma que soe menos dolorosa ou bonita de viver, eu aceitarei sem raciocinar porque eu preciso acreditar em algo ou em alguém, eu preciso sentir que o amor é real e que ainda há algo quente em mim, e eu quero que seja você. E eu quero me livrar desse desespero e dessa capa frágil que me faz transparecer que está tudo bem quando na verdade estou morrendo por dentro e não consigo erguer a mão. Estou farta, devastada, meus pés não me levam a lugar algum, minha cabeça que não desliga, meus olhos turvos que me rendem alucinações, o seu abraço é o único refúgio que ainda me sinto segura, mesmo que, por um momento. É tudo o que me restou agora. Mas são seis horas da manhã, e eu ainda não dormi, e só consigo pensar que talvez eu seja só mais um peso na sua vida, e que não vale mais a pena lutar por mim porque estou estragada demais, e que os remédios mais próximos dariam um cocktail irreversível, e ninguém mais poderia me salvar, nem eu.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Hoje meu corpo acordou refletindo como estou por dentro
Estado febril, um desespero sóbrio
Palavras arranhando meu corpo, querendo sair desesperadas
Sem sustentação na coluna, porque tudo deveria ser horizontal mas as pessoas gostam demais da pirâmide e isso dói também
Ontem eu vi pessoalmente um dos meus assassinos
Ninguém me garantiu, mas talvez eu também seja uma das assassinas dele
Eu queria conversar com ele
Eu queria matá-lo e vingar minha própria morte
Estou confusa, entre um estado de alívio e remorso por não ter feito nada
Entre me sentir grata por agora ter em mim naturalmente um alerta supremo de sobrevivência e auto defesa, porém cansada de viver nesse estado de choque e com raiva de tudo, por ter passado por isso muito cedo, agora tá enraizado e eu não consigo mais descansar porque a guerra nunca acaba e a paz é só uma ilusão
Então todas as noites eu fico sozinha e acho que não mereço ninguém, pois sou dura demais, e acho que ninguém vai me entender, pois estou ferida demais, e acho que nada faz sentido, e tenho razão
Mas ainda assim tento fazer algo por todos ao meu redor, e me entrego, e me sugam, como mamíferos abandonados sedentos por cuidados maternais e afeto, e depois vão embora, e me julgam, porque não sei amar como deveria
É um rito de passagem, todo dia é, ou pelo menos prefiro que seja, pois assim consigo acreditar que ainda posso me superar aos poucos, uma dose diária para matar os demônios em mim, só que o problema não sou só eu
Me questiono, que talvez esteja errada em matar meus demônios porque eles também são quem sou, quem me tornei, e talvez apenas esteja viva porque eles estão também, e são fortes, e me ensinaram que pensar em si mesma não é ser egoísta, que não devo me enganar pra caber nos lugares, que não devo agradar pra caber nas pessoas
Ninguém mostra caminho nenhum, remédios, terapia, tentativas de me manter ocupada, não obtive sucesso
Só eu e meus demônios agora, estamos de mãos dadas e quando a febre for embora, vamos plantar a semente do caos e da revolução.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

A espera interminável
Inquietante passagem do silêncio
Busco com os olhos
Algo que não sei
Alguém que não existe
Nada habita em mim
Neste duro momento
Onde o tempo e o espaço
Se dissipam na dor

Esqueço de respirar
Me afogo em mim
Estou desesperada
As luzes doem demais
Os rumores do que eu deveria fazer
As falácias
E a pressão de minha família
Devastada e morna
Sigo apenas automática

A retina cansada
Insônia abalando a sanidade
Nesta hora minha cabeça
Rapidamente se choca contra a parede
A voz perde o som
A vida perde o sentido
Ninguém escuta minha dor
As paredes são brancas demais
Os remédios já não fazem mais efeito
Não consigo superar
Tampouco quero sobreviver

Quando ainda estou aqui
Não me desperdice
Me dê um abraço quente
Pelo amor de deus
Ou de qualquer coisa que você acredite
Me diga que vai ficar tudo bem
E que as lágrimas vão evaporar
Todo esse anseio que me sufoca

Eu não aguento mais
Não aguento mais

A primeira vez eu tinha oito anos
Minha avó tava lá, ela me salvou
A primeira relação abusiva que você tem
Sempre é em família...
A segunda vez foi o primo da minha amiga
Ela também me salvou
A terceira foi um copo, jogaram lança perfume
Ambulância
A quarta foi um desconhecido
Na rua da minha casa
Armado, me enfiou no carro
A quinta vez foi a polícia

E me perdi nas contas
Guardei tudo porque tinha vergonha
"Você tem que ser forte, você vai superar"
E depois ninguém nunca me perguntou
Se eu tava bem, se eu precisava de ajuda
De qualquer forma, vocês conseguem
Vocês conseguem nos matar por dentro
E, nos fazem acreditar que somos culpadas

Não sobrou muito de mim
Descobri que a primeira vez
Na verdade não foi a primeira
E que os abusos não são só físicos
Emocionais, persuasivos
Todos os homens em quem confiei
Me agrediram de alguma forma
Mesmo assim não quero generalizar
E nem posso fazê-lo
Não sou como vocês
Estou devastada, mas não me deixei consumir pelo monstro
Que é o ódio que eu sinto as vezes
Que me faz empunhar uma faca
E chorar querendo vingança
Procurando recuperar algo que preciso pra sobreviver
A inocência, a confiança, me sentir segura
Mesmo que quando sozinha
Eu me tornei um perigo apenas por não saber mais o que fazer com a minha vida

Sete anos pra me abrir
De que adianta falar?
Ninguém sentiu o que eu senti
Impotente, lixo, desprezo, solidão, dor
Uma dor que nunca mais foi embora
O vazio de estar apavorada o tempo todo
Não consigo confiar em nada, em ninguém
Meus pais não sabem quem eu sou
Meus amigos estão ocupados demais
Por minhas amigas temo, para que nunca passem o mesmo
E tampouco adianta, pois a cada dez mulheres que conheço
Nove já foram abusadas
E estão tão devastadas como eu

Antidepressivos me levaram ao CAPS
Tava magra demais
Acharam que eu era usuária de drogas
Que porra difere a tarja preta do crack?
O desespero é o mesmo
Eu só queria esquecer que existo
Porque carrego coisa demais na cabeça
Porque estou sempre exausta e sem vontade de fazer nada
Porque perdi dois anos da minha vida na cama
Porque perdi a esperança na minha existência
Porque as pessoas não ouviram os meus gritos
Ninguém me visitou.
Será que você me ama mesmo
Ou é só dependência química?
Já não entendo as necessidades
Já não me cabe ficar aqui
Esperando que algum dia isso tudo melhore, e que a ferida cicatrize
Se as coisas não saem do lugar
Quem precisa partir sou eu.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Esse barulho que não cessa
Ecoa na casa vazia
Tic tic tic
Ranger os dentes as vezes
Um chá, um cigarro
Tac tac tac
Cabelo eriçado, maçaneta estática
O choque de estar vivo
Nesse mórbido convívio entre
Pessoas intactas, medonhas
Que
Tic tic tic
Sempre te cobram
Tac tac tac
Nunca te ajudam
E, me perco nesse tempo ingrato
Eu corro, corro prum alvo
Que ainda não mirei
Sem cálculo ou compromisso
Com aqui, ou alguém
Ninguém entende nada mesmo
Tic tic tic
Mas vão te dizer uma desgraça
De qualquer forma
Porque tomar as próprias escolhas
Tac tac tac
É egoísmo demais
Pra uma megera feito eu, mulherzinha
Não me importo mais
Tic tic tic
De qualquer forma o tempo
Ou o espaço entre nós
Me colocará num lugar onde
Eu não pertenço
Me submeterá a algo
Que não sou
E à alguém
Que não me ama
Mas felizmente
Não sou domesticável
Tampouco cederei
Aos teus luxos primitivos
Tac tac tac
Não dá pra voltar atrás
Nem com as palavras
Nem com o tempo

É chegada a hora
Hidrate-se
E revolte-se

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Ta tudo congelado agora
Imagina um céu azul com nuvens roxas
O vento é de chuva mas,
Ainda tá morno,
O corpo,
Ta esfriando.
E também tem raios
Com intervalos que perturbam o fôlego
O vento - vamos falar do vento
Porque ele me lembra
Que eu preciso respirar, eu preciso respirar
Uma pausa agora, já que ainda...
Está tudo congelado
Vou apagar o cigarro - não aguento mais.

Dor na nuca
Dente cerrado
Mandíbula nervosa
Não para de roer
Dor de cabeça
Olhos inchados
O pior é que
Não era de chorar
Faltam lágrimas
Falta sono
Falta tempo
Falta suor
Falta alguma coisa
Que me faça sentir viva.

Eu não sei o que é
Mas tá congelando cada vez mais
Daqui a pouco é muito tarde
O cigarro apagou-se
Nenhuma brasa desafia
Nada mais está morno
Eu não sei o que é.