terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Um corpo vazio em desencanto
Raramente encontra as palavras
Diariamente encontra o desespero
Vácuo em expansão
Até que a massa toda se dissipa no ar
Feridas incuráveis
Cicatrizes
Restos e retalhos
Colados ou enfiados a força
Dentro da moldura do que restou
Apenas um contorno
Um breve esboço se esforça
À tentar sobreviver ao vazio
E ao caos do silêncio
Tamanho silêncio, ensurdecedor
E a retina esbranquiçada
Tinge em translúcido na face
Molhando a feição cansada
Debruçada na janela dos sonhos
Precisa partir em breve
Uma pausa caótica
A rotina em estado de desgraça
Queria trocar as válvulas
Do sussurro matutino
Socorro socorro
Existência devastada
Corpo enfermo resiste

Até quando não importa.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

The night is cold
dark and hard
to survive

Preciso incendiar suas ideias
Preciso esquecer que existo.

Algumas pessoas não existem
São só um reflexo
Do que esperam delas a vida toda
E se sacrificaram
Pelas pessoas que amam
E que nunca as deram nada em troca
A não ser uma desesperança crônica
E uma corda, no meio do caminho

Uma carta desesperada à mim mesma

Eu só consigo dormir quando amanhece e vai clareando o dia porque eu sinto uma falsa segurança na luz, eu posso ver o perigo entre uma passagem rápida que me faz acordar entre um sonho e outro pra saber se ainda estou viva. Se ainda é real. Eu sinto muito medo as vezes e eu começo a chorar, as imagens ficam voltando como um filme de fita cassete emperrado na minha cabeça, e eu não consigo fazer rodar, nem rebobinar, nem tirar a fita. Eu não consigo gritar nem chamar ninguém, porque acho que se eu gritar eu vou morrer. Eu não consigo conversar com a minha mãe, porque não consigo suportar que ela sofra com o que sofro, não consigo olhar em seus olhos e vê-los procurando ajuda pra alguém que já não tem mais jeito, eu. Não consigo andar sozinha na rua sem passar mau, não consigo andar desarmada, não consigo achar que vai ficar tudo bem porque eu sei que não existe tudo bem. Não consigo deixar as pessoas se aproximarem de mim, porque acho que não mereço, porque me sinto um lixo, porque não restou quase nada de mim, porque espalho minha dor e contamino as pessoas com minhas sequelas que me aprisionam no passado. Não consigo comer, porque não sinto fome, apenas me alimento pra manter a obrigação de estar viva. Não consigo sentir vontade, me forço a sair de casa, me forço a ir a lugares que não me sinto confortável apenas pra testar o meu psicólogico. Não consigo me abrir, e quando o faço, me sinto culpada, e me sinto traída, porque ninguém vai entender, porque ninguém vai se importar, porque ninguém vai suportar a convivência no manicômio que é estar comigo. Eu não aguento mais minha cabeça e eu não aguento mais meu corpo fadigado, a auto sabotagem, as tentativas fracassadas de ser uma boa filha ou uma boa companheira, as crenças e os costumes de minha família que os deixaram cegos demais para saber quem eu era, as pressões ridículas pra que eu me tornasse algo que não sou, as cobranças e autoritarismos que apagam minha existência real, as pílulas que eu tomei, e as que eu não tomei, os efeitos colaterais, do remédio, do remorso e do ódio, e também do amor, e são todos iguais, assustadoramente iguais. As muitas paredes brancas, e as verdes também, quais tentaram me internar diversas vezes e não conseguiram, os devaneios, as vezes até de olhos abertos, as tremeideiras, a automutilação que ninguém vê, a desesperança e a vontade de já não sentir mais nada. Eu não aguento mais então por favor não me venha com a possibilidade poética de um amor futuro se isso não for real. Porque nada faz sentido mais e eu sei que eu tenho razão nisso. Então qualquer forma que soe menos dolorosa ou bonita de viver, eu aceitarei sem raciocinar porque eu preciso acreditar em algo ou em alguém, eu preciso sentir que o amor é real e que ainda há algo quente em mim, e eu quero que seja você. E eu quero me livrar desse desespero e dessa capa frágil que me faz transparecer que está tudo bem quando na verdade estou morrendo por dentro e não consigo erguer a mão. Estou farta, devastada, meus pés não me levam a lugar algum, minha cabeça que não desliga, meus olhos turvos que me rendem alucinações, o seu abraço é o único refúgio que ainda me sinto segura, mesmo que, por um momento. É tudo o que me restou agora. Mas são seis horas da manhã, e eu ainda não dormi, e só consigo pensar que talvez eu seja só mais um peso na sua vida, e que não vale mais a pena lutar por mim porque estou estragada demais, e que os remédios mais próximos dariam um cocktail irreversível, e ninguém mais poderia me salvar, nem eu.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Hoje meu corpo acordou refletindo como estou por dentro
Estado febril, um desespero sóbrio
Palavras arranhando meu corpo, querendo sair desesperadas
Sem sustentação na coluna, porque tudo deveria ser horizontal mas as pessoas gostam demais da pirâmide e isso dói também
Ontem eu vi pessoalmente um dos meus assassinos
Ninguém me garantiu, mas talvez eu também seja uma das assassinas dele
Eu queria conversar com ele
Eu queria matá-lo e vingar minha própria morte
Estou confusa, entre um estado de alívio e remorso por não ter feito nada
Entre me sentir grata por agora ter em mim naturalmente um alerta supremo de sobrevivência e auto defesa, porém cansada de viver nesse estado de choque e com raiva de tudo, por ter passado por isso muito cedo, agora tá enraizado e eu não consigo mais descansar porque a guerra nunca acaba e a paz é só uma ilusão
Então todas as noites eu fico sozinha e acho que não mereço ninguém, pois sou dura demais, e acho que ninguém vai me entender, pois estou ferida demais, e acho que nada faz sentido, e tenho razão
Mas ainda assim tento fazer algo por todos ao meu redor, e me entrego, e me sugam, como mamíferos abandonados sedentos por cuidados maternais e afeto, e depois vão embora, e me julgam, porque não sei amar como deveria
É um rito de passagem, todo dia é, ou pelo menos prefiro que seja, pois assim consigo acreditar que ainda posso me superar aos poucos, uma dose diária para matar os demônios em mim, só que o problema não sou só eu
Me questiono, que talvez esteja errada em matar meus demônios porque eles também são quem sou, quem me tornei, e talvez apenas esteja viva porque eles estão também, e são fortes, e me ensinaram que pensar em si mesma não é ser egoísta, que não devo me enganar pra caber nos lugares, que não devo agradar pra caber nas pessoas
Ninguém mostra caminho nenhum, remédios, terapia, tentativas de me manter ocupada, não obtive sucesso
Só eu e meus demônios agora, estamos de mãos dadas e quando a febre for embora, vamos plantar a semente do caos e da revolução.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

A espera interminável
Inquietante passagem do silêncio
Busco com os olhos
Algo que não sei
Alguém que não existe
Nada habita em mim
Neste duro momento
Onde o tempo e o espaço
Se dissipam na dor

Esqueço de respirar
Me afogo em mim
Estou desesperada
As luzes doem demais
Os rumores do que eu deveria fazer
As falácias
E a pressão de minha família
Devastada e morna
Sigo apenas automática

A retina cansada
Insônia abalando a sanidade
Nesta hora minha cabeça
Rapidamente se choca contra a parede
A voz perde o som
A vida perde o sentido
Ninguém escuta minha dor
As paredes são brancas demais
Os remédios já não fazem mais efeito
Não consigo superar
Tampouco quero sobreviver

Quando ainda estou aqui
Não me desperdice
Me dê um abraço quente
Pelo amor de deus
Ou de qualquer coisa que você acredite
Me diga que vai ficar tudo bem
E que as lágrimas vão evaporar
Todo esse anseio que me sufoca

Eu não aguento mais
Não aguento mais

A primeira vez eu tinha oito anos
Minha avó tava lá, ela me salvou
A primeira relação abusiva que você tem
Sempre é em família...
A segunda vez foi o primo da minha amiga
Ela também me salvou
A terceira foi um copo, jogaram lança perfume
Ambulância
A quarta foi um desconhecido
Na rua da minha casa
Armado, me enfiou no carro
A quinta vez foi a polícia

E me perdi nas contas
Guardei tudo porque tinha vergonha
"Você tem que ser forte, você vai superar"
E depois ninguém nunca me perguntou
Se eu tava bem, se eu precisava de ajuda
De qualquer forma, vocês conseguem
Vocês conseguem nos matar por dentro
E, nos fazem acreditar que somos culpadas

Não sobrou muito de mim
Descobri que a primeira vez
Na verdade não foi a primeira
E que os abusos não são só físicos
Emocionais, persuasivos
Todos os homens em quem confiei
Me agrediram de alguma forma
Mesmo assim não quero generalizar
E nem posso fazê-lo
Não sou como vocês
Estou devastada, mas não me deixei consumir pelo monstro
Que é o ódio que eu sinto as vezes
Que me faz empunhar uma faca
E chorar querendo vingança
Procurando recuperar algo que preciso pra sobreviver
A inocência, a confiança, me sentir segura
Mesmo que quando sozinha
Eu me tornei um perigo apenas por não saber mais o que fazer com a minha vida

Sete anos pra me abrir
De que adianta falar?
Ninguém sentiu o que eu senti
Impotente, lixo, desprezo, solidão, dor
Uma dor que nunca mais foi embora
O vazio de estar apavorada o tempo todo
Não consigo confiar em nada, em ninguém
Meus pais não sabem quem eu sou
Meus amigos estão ocupados demais
Por minhas amigas temo, para que nunca passem o mesmo
E tampouco adianta, pois a cada dez mulheres que conheço
Nove já foram abusadas
E estão tão devastadas como eu

Antidepressivos me levaram ao CAPS
Tava magra demais
Acharam que eu era usuária de drogas
Que porra difere a tarja preta do crack?
O desespero é o mesmo
Eu só queria esquecer que existo
Porque carrego coisa demais na cabeça
Porque estou sempre exausta e sem vontade de fazer nada
Porque perdi dois anos da minha vida na cama
Porque perdi a esperança na minha existência
Porque as pessoas não ouviram os meus gritos
Ninguém me visitou.
Será que você me ama mesmo
Ou é só dependência química?
Já não entendo as necessidades
Já não me cabe ficar aqui
Esperando que algum dia isso tudo melhore, e que a ferida cicatrize
Se as coisas não saem do lugar
Quem precisa partir sou eu.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Esse barulho que não cessa
Ecoa na casa vazia
Tic tic tic
Ranger os dentes as vezes
Um chá, um cigarro
Tac tac tac
Cabelo eriçado, maçaneta estática
O choque de estar vivo
Nesse mórbido convívio entre
Pessoas intactas, medonhas
Que
Tic tic tic
Sempre te cobram
Tac tac tac
Nunca te ajudam
E, me perco nesse tempo ingrato
Eu corro, corro prum alvo
Que ainda não mirei
Sem cálculo ou compromisso
Com aqui, ou alguém
Ninguém entende nada mesmo
Tic tic tic
Mas vão te dizer uma desgraça
De qualquer forma
Porque tomar as próprias escolhas
Tac tac tac
É egoísmo demais
Pra uma megera feito eu, mulherzinha
Não me importo mais
Tic tic tic
De qualquer forma o tempo
Ou o espaço entre nós
Me colocará num lugar onde
Eu não pertenço
Me submeterá a algo
Que não sou
E à alguém
Que não me ama
Mas felizmente
Não sou domesticável
Tampouco cederei
Aos teus luxos primitivos
Tac tac tac
Não dá pra voltar atrás
Nem com as palavras
Nem com o tempo

É chegada a hora
Hidrate-se
E revolte-se