terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

como vou engolir
o pedido de paz hipócrita
de libertários privilegiados egocêntricos
enquanto um deus cruel e admirado
cospe por entre os dentes podres
toneladas de munição e armas
pra homens miseráveis que acreditam no poder
refletindo à tiros e histeria
a mesma opressão tirana
que oferece uma realidade plastificada, frágil e doentia 

à quem já nasceu na desgraça

como vou acreditar
se tuas palavras tão belas e acadêmicas
embebidas ao descaso gourmet
que silenciam gritos desesperados
ainda fazem chacota dos trejeitos e costumes de quem construiu tudo isso levando nas costas
enquanto sua industria se apropria até de almas enlamaçadas
embranquecendo tudo
envenenando o mundo
colonizando ideias

me encantaria mesmo é ver o teto de mármore 
despedaçando sobre suas cabeças
tingindo e devolvendo o vermelho
como sangue, como fogo
que alastra e engole as paredes de cimento 


como se a realidade já não fosse absurda
como se sua soberania cristã já não tivesse estuprado as liberdades e a esperança
como se a única dor que lateja fosse a sua
como se toda transcendência e romantização resolvessem os problemas estruturais

o véu que enfeita o problema
é o mesmo que venda meus olhos.

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