sexta-feira, 24 de maio de 2019

tenho medo da necessidade
de correr o tempo todo

chegar à lugar algum


de ter que devorar a existência
numa tragada

eu tenho medo dessa cidade

terça-feira, 9 de abril de 2019

é o tempo onde homens
não tem mais razão
e devem ouvir com frequência
quando faz sentido
e quando não.

domingo, 10 de março de 2019

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

como vou engolir
o pedido de paz hipócrita
de libertários privilegiados egocêntricos
enquanto um deus cruel e admirado
cospe por entre os dentes podres
toneladas de munição e armas
pra homens miseráveis que acreditam no poder
refletindo à tiros e histeria
a mesma opressão tirana
que oferece uma realidade plastificada, frágil e doentia 

à quem já nasceu na desgraça

como vou acreditar
se tuas palavras tão belas e acadêmicas
embebidas ao descaso gourmet
que silenciam gritos desesperados
ainda fazem chacota dos trejeitos e costumes de quem construiu tudo isso levando nas costas
enquanto sua industria se apropria até de almas enlamaçadas
embranquecendo tudo
envenenando o mundo
colonizando ideias

me encantaria mesmo é ver o teto de mármore 
despedaçando sobre suas cabeças
tingindo e devolvendo o vermelho
como sangue, como fogo
que alastra e engole as paredes de cimento 


como se a realidade já não fosse absurda
como se sua soberania cristã já não tivesse estuprado as liberdades e a esperança
como se a única dor que lateja fosse a sua
como se toda transcendência e romantização resolvessem os problemas estruturais

o véu que enfeita o problema
é o mesmo que venda meus olhos.

roubam meu sangue e pintam com ele
fazem entretenimento da minha dor

à quem pertence esse corpo?

e se eu me atirar em um piso branco consigo uma obra espontânea?
deixo tudo vermelho como brasa
e você ainda ganha uma história triste
pra romantizar e fingir que se importa

que se arrepende

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Onde está o pai?
Cadê o homem que fala que é?
Reconhecido, que faz e acontece
Onde está essa força?
Tão magnífica, realizadora
Viríl e cruel
Que tudo que toca, desgraça
Que quando se move, devasta
Se esconde atrás de nossa existência
Que enquanto mulher, sofre e é obrigada a resistir
Carregamos tudo, construímos, cuidamos
Enquanto cadê? Cadê o homem?
Que se enfia em sua macheza
E não quer sair de lá, o buraco quente 
Não acredita em ninguém que não seja outro homem
A prepotência macho alfa
Calando todas as bocas que não sejam iguais ou másculas o suficiente
Levantando seus pilares meio moles
Incertos do que almejam
E ainda sim, alguns dizem que eles não sabem o que estão fazendo
Mas não posso acreditar
Sabem muito bem e gozam
Gozam do sangue
Do alto de sua covardia soberana
Zombam de nossa natureza
Enquanto a criança corre e chora
Chora também a mulher
Molha também o mundo
Inunda e dizima populações inteiras
Apenas pra afirmar suas obras faraônicas
Perigosas e falocentricas
A criação é sua e o desastre é nosso?
Cadê o pai? Onde foi?

Ninguém sabe dizer, afinal, ele é livre. Ele é homem.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Temo, a amargura que vem com os anos
o descaso dos seres humanos
e o frio mortal
nos olhares que me cortam.

As trocas sempre vazias
me sinto sozinha e estou cansada.