sexta-feira, 30 de maio de 2014


Cinza - as pessoas, seus devidos humores e os ruídos infernais de São Paulo. Essa cidade foi construída fria e calculadamente pra te foder.



Eu não confiava em ninguém. Não confiava no céu que falava sol e fazia chuva, não confiava em Deus que dizia amor e fazia ódio, não confiava nas notícias. Não confiava nas pessoas, não confiava nos objetos, não confiava em mim mesma. E ainda sim, era obrigada a escolher alguém pra governar a merda do país. Ou exemplos mais comuns, como pedir açúcar pro café ao atendente amargurado da padaria... ou até mesmo dormir com os pés pra fora do cobertor.


Eu escondia meu fracasso por todos os cantos da casa. Talvez se os tivesse assumido em quadros, eu seria uma pessoa melhor. Mas era esse o meu medo.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Eu sou os braços pensos que se debruçam
como alma cansada sobre o precipício
os abraços são violentos
como de quem prevê tempestade
vejo a dor que escorre incolor nas curvas
que a solidão marcou sob o rosto amanhecido
não há espaço físico, só embreaguez mental
e sinto a pele azedar
o suor é frio e inunda a casa
as palavras engasgando os vivos
as flores enganando os mortos
as mães num vai-e-vem incessante
visitas rotineiras ao manicômio pálido
os filhos fazendo filhos
às vestes que comprariam minha dignidade
os pais avacalhados de si mesmos
as prostitutas com razão
os poetas bêbados e entorpecidos de incerteza
a razão prostituída
meteção por virgindade
saudaremos em massa, mesmo se for massacre
assassinaremos os assassinos com suas próprias armas
e assim nos tornaremos grandes heróis de nós mesmos
mendingando, com fome de atenção
pois em terra de ego quem faz tendência é rei.