segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Passport

Um esboço de sorriso
num amanhecer,
em um pequeno instante.
Uma mera demonstração que ainda estamos em órbita, e que a vida, apenas permanece.


Hesite em empolgar-se, nada mais é que uma deixa da natureza para alimentar a falsa esperança que nos mantém em pé, mentira necessária. E mais uma argumentação; de que vale tudo se o que temos é nada, se o que somos é nada, e o que fazemos é mais ainda nada, que quase transparece em meio estas palavras. (?)





Para tal que absorve as mágoas,
como um lenço que seca as lágrimas
de uma mãe, que carrega o mundo nas costas
 e ainda sonha com a viajem infinita
prum paraíso perdido e inventado
o pensamento perfeito eu indago
à afagar as tristezas da verdade
de que aqui se encontra o fim
e que a vida não mais prossegue
logo um conforto me atenta
que cá nada passa de condenação
e a morte sim, temida
é o que liberta.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Onde tem tapete, tem poeira.

Vivemos numa máquina de sonhos impossíveis, o filtro de ar quebrou faz uns anos, as engrenagens estão enferrujadas, e os operários, exaustos pela escassez de líquidos. Uma massa de ar quente paira sobre a fina camada de oxigênio, logo acima de uma neblina acinzentada e turva. Há muitos departamentos, alguns dizem que só é permitida a entrada de funcionários, uns são de livre passagem, outros são de oportunidades, outros de regresso, mais a maioria é de ilusão.

Tudo é superficial e tudo é comércio. Inclusive sua boa intenção.

Muitos corpos expostos; humanos, não humanos e desumanos. 
Os desumanos são os chefes do departamento de reclamações, mas eles vieram com um defeito de fabricação, no lugar do coração tem um tijolo, e no lugar dos tímpanos, um broto de feijão.

No início da construção dessa máquina haviam fauna e flora. Mas isso é assunto extinto.

Lá as leis são bem rígidas, quem é correto não pode ter opinião, quem é incorreto não precisa de punição. 

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Closed

Não há nada que possa ferir ou falar mais que um olhar, nem ser mais sincero.

Suas palavras pedem perdão mas o modo em que me olha é de pura frieza, calculista, como se seu discurso estivesse montado, apoiado sobre a mesa. 
A tinta da caneta ainda exala perfume sobre a sulfite que usara apenas metade para um breve adeus. Quanto desperdício! De papel, e de brevidade. 
Sentada ao seu lado, te observo com cautela, milimétricamente, como de costume, esse é meu dom. 
Encosto a mão em seu rosto e me lembra à de um cadáver, não pela roxidão de seus lábios por conta do frio, mas pela ausência de vida que estes tempos têm te causado.
Nos causado!
E questiono seus movimentos, principalmente quando há água em seus olhos e você não me deixa enxugá-las, parece um passarinho faminto mas desconfiado da comida. Talvez seja medo da recaída, que sempre nos encurrala pelos corredores dos metrôs do Centro.
Fadigados de tanto amor e desleixo, das contradições, dos empates. Vem desempatar minha vida com o seu jogo de palavras e me prende no labirinto de seus braços, como fizera à tempo gasto. Volta a fita por favor, tempo gasto não pode ser repintado, nunca terá a mesma cor.